18 ago
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Maria Montessori e a educação

É uma história fascinante de uma mulher a frente do seu tempo, que deixou um legado importante para a educação de todo o mundo.

Foi na Universidade de Roma, em 10 de julho de 1896, que a Itália teve a terceira mulher a se diplomar em Medicina. Para fazer o curso, ela precisou obter autorização do papa Leão XIII. Seu nome? Maria Tecla Artemisia Montessori ou apenas Maria Montessori. Nascida em 1870, em Chiaravall, uma cidade no norte da Itália com pouco mais de 14 mil habitantes, ao final da vida, chegou a ser nomeada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz.

Porém, até escolher Medicina, Montessori passou por outras áreas. Quando adolescente, era apaixonada por Matemática e optou por fazer o curso técnico de Engenharia. Com o apoio da mãe e ressalvas do pai, foi uma das duas garotas em uma escola frequentada só por meninos.

Ao final do curso, no entanto, Montessori já tinha se apaixonado por Biologia e se decidira pela Medicina. A mãe, com tendências feministas – que foram passadas para a filha –, novamente a apoiou, mas o pai não, ao menos no início, pois o caminho normal para mulheres era ser professora.

Muitos foram os desafios na faculdade. Entre os piores estavam as sessões de dissecação. Ela tinha de ir sozinha para o laboratório durante a noite, pois não podia dissecar junto aos homens da sala. Por esse motivo, uma vez quase desistiu do curso, mas não queria ser professora. E a ideia da desistência nunca mais veio à sua cabeça.

Naquela época, não se admitia uma mulher examinando o corpo de um homem, por isso, mesmo formada, a médica não pôde exercer sua profissão. Porém, como os caminhos da vida realmente não são retos, foi exatamente aí que sua história começou a mudar e a fez ser conhecida e reconhecida mundialmente.

Caminhos que se abrem

Essa porta fechada a levou à Psiquiatria, área em que se especializou. O foco foram crianças com necessidades especiais. Em diversas visitas a asilos, Montessori percebeu que o tratamento dispensado às crianças era desumano e começou a buscar conhecimento sobre cuidados e atenções mais humanizadas.

Nessa procura, encantou-se com o trabalho do médico e educador francês Édouard Séguin, um estudioso de crianças com necessidades especiais. Chamou sua atenção principalmente as informações sobre a sensibilidade sensorial da criança pequena. Seu interesse foi tamanho, que ela traduziu todo um livro do médico para o italiano.

Foi assim que, aos 28 anos, Montessori defendeu no Congresso Médico Nacional, em Turim, a tese de que a causa principal dos atrasos apresentados pelas crianças com distúrbios de comportamento e aprendizagem era o seu ambiente ausente de estímulos para o desenvolvimento adequado.

Nasceu aí uma das histórias famosas acerca de Montessori. Conta-se que, ao terminar sua exposição, um médico da plateia perguntou: “Por que preocupa-se a senhora com essas crianças? Não sabe que elas não podem aprender?”.  Montessori respondeu: “Elas podem. São os senhores que não permitem”.

Depois, quando começou a trabalhar na Escola Ortofrênica, Montessori observou que as crianças se interessavam por qualquer coisa que pudessem sentir. A partir daí passou a buscar novas vertentes para as pesquisas de Séguin e a criar novos materiais.

O resultado foi tão positivo que Montessori inscreveu as crianças em testes nacionais de educação. Os alunos se saíram melhor do que muitos outros com a cognição perfeita e matriculados no ensino normal.

Mais uma virada

 A situação do péssimo resultado das outras crianças surpreendeu Montessori, que, durante esse meio tempo, já tinha feito Pedagogia. A partir daí, dedicou-se integralmente à Educação, retornando ao início de sua história e seguindo o caminho que, inicialmente, não quis trilhar. Antropologia e Pedagogia passaram a ser seu foco de estudo e, em 1904, assumiu o posto de professora da Escola de Pedagogia da Universidade de Roma, onde ficou até 1908.

Ao final de seu tempo na universidade, veio a chance que marcaria sua trajetória de vez. Foi convidada para desenvolver um projeto educacional e daí nasceu o Lar das Crianças, que atendia os filhos dos trabalhadores do bairro San Lorenzo, em Roma. Mas o que era para ser uma simples creche transformou-se em uma experiência revolucionária.

Com o tempo, Montessori percebeu que as crianças preferiam materiais com os quais pudessem interagir. Também substituiu cadeiras e móveis pesados por aqueles que fossem mais leves, para que as crianças pudessem movimentá-los livremente, e estantes altas por outras baixas. Aplicava o princípio da atividade, da individualidade e da liberdade.

Os materiais sensoriais ficavam disponíveis para que as crianças pudessem usá-los o tempo todo. Assim, se acalmaram, se tornaram mais concentradas e felizes. Em seguida, por pressão dos pais, ensinou as crianças a escrever. O resultado foi surpreendente.

Suas descobertas a levaram para as capas dos jornais e revistas de todo o mundo. Em 1909, ela escreveu o livro O Método da Pedagogia Científica Aplicado à Educação Infantil no Lar das Crianças, conhecido no Brasil como Pedagogia Científica. Mas foi o título em inglês, O Método Montessori, que deu origem ao termo que rodou o mundo.

Caminhos impostos

Durante o governo Mussolini, por recusar apoio ao regime fascista, todas as escolas com seu método foram fechadas na Itália e Montessori fugiu para Barcelona. Em 1936, quando estourou a Guerra Civil espanhola, ela fugiu para a Holanda, onde permaneceu até 1939.

Convidada a dar um curso na Índia, aceitou, mas não pôde voltar para a Europa. Com o início da Segunda Guerra Mundial, tornou-se prisioneira dos britânicos, retornando somente em 1946. Morreu em 1952, na Holanda, antes do octogésimo segundo aniversário. Estava na companhia de seu único filho, Mário Montessori.

 

Fontes:

https://www.geledes.org.br/maria-montessori-medica-italiana-fascinada-pela-educacao/

https://larmontessori.com/maria-montessori/

https://montessori.org.au/biography-dr-maria-montessori

https://escolainfantilmontessori.com.br/blog/maria-montessori/

https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/03/quem-foi-maria-montessori-pedagoga-italiana-que-revolucionou-educacao.html

https://www.ebiografia.com/maria_montessori/

[*] Muito é dito que Montessori foi a primeira mulher a se formar em Medicina no país, mas há informações de que foi a terceira, o que em nada diminui seu mérito (https://larmontessori.com/maria-montessori/).

CHRISTIANE FERNANDES
FILHOSWEB